IV. Para a quarta-feira
Do juízo final
Considera como, apenas saída a alma do corpo, se apresentará ao tribunal de Deus para ser julgada.
O juiz é um Deus onipotente que tu ultrajaste, e sumamente indignado; os acusadores são os demônios, teus inimigos, o processo são os teus pecados; a sentença é inalterável, a pena é um inferno. Ali já não terás companheiros, nem parentes, nem amigos: tens de haver-te somente com Deus; então é que hás de conhecer a deformidade dos teus pecados de pensamentos, omissão e de escândalo: tudo será pesado nesta exata balança da divina justiça; e por uma só coisa em que fores encontrado em falta grave, ficará perdido.
Meu Jesus, meu juiz, perdoa-me antes de me chamardes ao juízo!
Considera como a divina justiça deverá julgar todas as gentes no vale de Josafá, quando no fim do mundo os corpos ressuscitarem, para receberem, já unidos com as suas almas, o prêmio ou o castigo, segundo as suas boas ou más obras. Considera como, condenando-te, retomarás este teu corpo que servirá para a eterna prisão da alma desgraçada. Naquele amargosíssimo encontro, a alma amaldiçoará o corpo, e o corpo amaldiçoará a alma: de maneira que a alma, e o corpo, que agora se combinam em buscar prazeres proibidos, se unirão por força para serem algozes de si próprios. Pelo contrário, se te salvas, o teu corpo ressuscitará belo, impassível, resplandescente, e, tanto na alma como no corpo, te tornarás digno da vida bem-aventurada. E assim acabará a cena deste mundo.
Acabarão então todas as grandezas, os prazeres, as pompas deste mundo: tudo desaparecerá como um sonho. Só restarão duas eternidades: uma de glória e outra infeliz; uma de delícias, outra de dores. Os justos no paraíso, os pecadores no inferno. Desgraçado será então quem tiver amado o mundo, por miseráveis gostos desta terra, tiver perdido tudo; a alma, o corpo, o paraíso e a Deus.
Considera a eterna sentença; Cristo Juiz se voltará contra os réprobos e lhes dirá: Terminou-se o tempo do ultraje, o vosso tempo! Agora chegou a minha hora, hora de verdade e de justiça, hora de indignação e de vingança. Sim, malvados, amastes a maldição: venha ela sobre vós, sede malditos no tempo, malditos na eternidade. Apartai-vos de mim, ide, despojados de todo o bem, carregados de todas as penas, para o fogo eterno!
Jesus se voltará em seguida para os escolhidos, e dirá: Vinde vós, meus filhos benditos, vinde possuir o reino dos céus que vos está preparado. Vinde, não para carregar após mim a cruz, mas para receber a recompensa. Vinde ser herdeiros das minhas riquezas, companheiros da minha glória; vinde cantar eternamente as minas misericórdias, vinde do desterro para a pátria, vinde das misericórdias para o júbilo, vinde das lágrimas para o gozo, vinde das penas para o repouso eterno: Venite, benedicti Patris mei, possidete paratum vobis regnum!
Meu Jesus, espero também ser um destes bem-aventurados. Amo-vos sobre todas as coisas. - Abençoai-me vós também, Maria, minha querida Mãe.
Fruto:
Para ter uma boa morte, é necessário ter uma boa vida: começa ao menos agora a amar a Deus; sê devoto da Paixão de Jesus Cristo; ama a Maria Santíssima e pede-lhe, sem cessar, uma boa morte. Repete de contínuo, considerando: Ó momento do qual depende a minha eternidade! Momento que daqui a pouco hei de passar! Momento que, errado uma vez, não terá jamais remédio! - Quando vais à noite recolher-te, lembra-te que hás de morrer; deita-te como estão os defuntos na tumba: estende os pés e cruza as mãos. Medita seriamente, e dize: "Quem sabe se esta noite me acharei na eternidade? Pode muito bem ser; a inumeráveis tem isto acontecido. Ó Deus meu, iluminai-me".